"- (...) Ora diz-me: não te parece que há uma espécie de bem, que gostaríamos de possuir, não por desejarmos as suas consequências, mas por o estimarmos por si mesmo, como a alegria e os prazeres que forem inofensivos e do quais nada resulta de futuro, senão o prazer de os possuirmos?
- Parece-me - disse eu - que existe um bem dessa espécie.
- E aquele bem de que gostamos por si mesmo e pelas suas consequências, como por exemplo a sensatez, a vista, a saúde? Pois tais bens, apreciamo-los por ambos os motivos.
- É sim - repliquei.
-E vês uma terceira espécie de bem, no qual se compreende a ginástica e o tratamento das doenças, e a prática clínica e outras maneiras de obter dinheiro? De tais bens diríamos que são penosos, mas úteis, e não aceitaríamos a sua posse por amor a eles, mas sim ao salário e a outras consequências que deles derivam.
- Existe, com efeito, esta espécie ao lado das outras duas. Mas que queres tu dizer?
- Em qual delas colocas a justiça?
- Acho que na mais bela, a que deve estimar por si mesma e pelas suas consequências quem quiser ser feliz.
- Ora bem! O parecer da maioria não é esse, mas sim que pertence à espécie penosa, a que se pratica por causa das aparências, em vista do salário e da reputação, mas que por si mesma se deve evitar, como sendo dificultosa."
A República - Platão
(Livro)
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